quinta-feira, 18 de março de 2010

A pujança dos Lundgren

Uma exposição de fotos promovida pela Casa da Cultura, órgão do Poder Municipal, procura resgatar o passado recente de Rio Tinto, no Litoral Norte, a 51 Km da Capital, falando sobre sua fundação, a pujança da fábrica de tecidos e, principalmente, enfocando a história da família Lundgren, fundadora da cidade que, nas décadas de 50 e 60 chegou a possuir o maior parque têxtil-fabril da América do Sul. A mostra iniciou em dezembro de 2007 e ainda está em evidência, revelando detalhes da vida deste município, muitas vezes ignorados até pelos historiadores.
"A exposição irá continuar por tempo indefinido, já que despertou o interesse de universitários, pesquisadores e pessoas comuns, superando a expectativa de sucesso prevista para ela", comenta o historiador Eduardo Manoel Gonçalves, 50 anos, secretário municipal do Turismo Cultura e Esporte. A Exposição exibe para um seleto público raridades curiosas, como a foto de Bety, a primeira mulher a conseguir emprego na Prefeitura local - até então um reduto só de homens - e da primeira Marinete, o ônibus coletivo que transportava passageiros entre Rio Tinto, Mamanguape e João Pessoa.
Gonçalves acrescenta que Rio Tinto, uma área que até a década de 10 era pontilhada de pântanos infectados de febres palustres, obteve um desenvolvimento meteórico graças ao empreendimento dos Lundgren, que ousaram investir num local ermo, transformando-o num pedaço de mundo conhecido. "João Frederico Lundgren foi chamado de doido, ao adquirir, por um monte de contos de réis, a fazenda improdutiva que se estendia do antigo Engenho da Preguiça até o limite com o oceano" , diz o secretário. Gonçalves reúne todos esses dados num bloco de anotações para, um dia, aplicá-los no museu que contará a história dos Lundgren nesta parte do Brasil.
Uma das raridades colocadas à vista do público visitante é a foto que mostra a destruição parcial do palacete dos Lundgren, em Vila Regina, no ano de 1945, quando fazia apenas três dias de finalização da Segunda Guerra Mundial. O palacete, que está desabitado há 63 anos, foi construído segundo o estilo arquitetônico das vilas operárias de Manchester (Inglaterra) e Berlim (Alemanha), muito em voga nos anos de 1910-1920. De acordo com esse estilo, atualmente 90% das casas de Rio Tinto ainda são conjugadas. O palacete se ligava ao porto fluvial do Jaraguá, com saída para o mar.
Uma turba enfurecida de brasileiros destruiu o casarão, em 1945, alegando que, ali, havia equipamentos de espionagens que favoreciam a incursão de nazistas pelo Litoral Nordeste do Brasil. Nada disso foi confirmado, embora três operários da fábrica de tecidos - inclusive uma mulher - tenham sido presos, na década de 40, como suspeitos de espionagem. No mesmo estilo do casarão, foi construída a matriz de Santa Rita de Cássia, em 1943 com seus bem delineados tijolos aparentes, o Tênis Club e o Cine Teatro Orion, que figurou entre os melhores cinemas do Brasil, na década de 50. No palco do Orion, exibiram-se orquestras de renome internacional. Mais: ao conquistar sua indpendência política, em 6 de dezembro de 1956, Rio Tinto já dispunha de mais de 3.600 casas e de um parque fabril que empregava diretamente 8 mil pessoas, operando em toda a sua plenitude.
"Rio Tinto sempre foi uma cidade acostumada a fornecer o melhor para seus habitantes. Por causa disso é que temos muitas coisas boas por aqui, seja do ponto de vista histórico, industrial ou arquitetônico", compara Gonçalves. Na longínqua década de 40, o palacete surgiu dentro de Vila Regina, o maior reduto operário da fábrica de tecidos Rio Tinto, com uma visão de assombrar: possuía banheiros dentro de casa e dos próprios quartos. Copiando o estilo das maiores charnecas européias, João Frederico Lundgren cuidou de plantar diversas árvores frutíferas no terreno em volta, que tinha uma área de seis hectares.
O marechal Eurico Gaspar Dutra, então presidente do Brasil, ao visitar Rio Tinto em 1951, ficou tão impressionado com a potência do parque fabril dos Lundgren, que encomendou o fardamento do Exército, Marinha e Aeronáutica à Fábrica de Tecidos Rio Tinto, na época fabricante dos melhores brins e cáquis produzidos na América do Sul. Paralelamente, o grupo Lundgren fundou duas redes de lojas, que se tornariam as maiores do mundo: no Nordeste, as Lojas Paulista e, no Sul-Sudeste, as Casas Pernambucanas, com filiais na Argentina e Uruguai.
Gonçalves lembra que possuía uma padaria em Rio Tinto, com 70 funcionários. Motivo: a panificadora fornecia pão, biscoitos e outras massas para parte do operariado da fábrica, que trabalhava em quatro turnos de seis horas. "Se a gente não tivesse muitos empregados para atender, não era possível dar conta do recado", demonstra. Gonçalves acredita que Rio Tinto viveu seu apogeu do ouro no período de 1920 a 1980. Ele diz que, em 1920, na cidade já existia o vale-alimento, a popular saroba. Quem quisesse comer no restaurante da empresa, pagava um tostão (cerca de 10 centavos a dinheiro de hoje) e comia o que aguentasse.
Ao estilo da Europa, a administração da fábrica construiu áreas de lazer para todas as categorias de operários: o staf da fábrica e empresários destacados da cidade freqüentavam o Tênis Clube, semelhante ao de Paulista (PE), onde o grupo Lundgren tinha outra fábrica de tecidos e concentrava a sede de seu império industrial e comercial. O Tênis Clube tinha freqüentadores pebolistas, mas a nata de operários especializados, brasileiros, suecos e alemães, preferia o tênis, ainda hoje um esporte pouco divulgado por essas bandas.
O América Futebol Clube e o Flamengo Esporte Clube pertenciam às categorias menores de operários e só praticavam o futebol. Vila Regina ganhou o Regina Esporte Clube. A Exposição de fotos fornece dicas de tudo isso e, paralelamente, comemora os 50 anos de Emancipação Política de Rio Tinto, com brilhantismo. No dia 15 deste mês, a exposição foi visitada por alunos do Curso de Design Ciências da Computação e Ecologia do Campus IV da UFPB Litoral Norte, em Rio Tinto. A Exposição, que funciona na Secretaria de Turismo, mantém, numa sala à parte, a Biblioteca José Américo de Almeida. Os universitários fizeram pesquisas bibliográficas e sobre o meio-ambiente.
Em ato simultâneo ao da exposição, os visitantes recebem um bloco de notas onde constam informações interessantes: por exemplo, o primeiro nome do mun icípio foi Riacho Vermelho, por causa do rio que corta a cidade, cujas águas são dessa cor. A fábrica de tecidos foi concluída em 1924. A principal chaminé, com 76m de altura, impressionava, pelo arrojo, os caboclos da região. Os Lundgren adquiriram dos ingleses seus equipamentos mais sofisticados de tecelagem. Getúlio Vargas, que visitou Rio Tinto em 1933, elogiou o pioneirismo dos Lumdgren , sobre uma área, na época, tão remota do País.
Rio Tinto, por causa de sua estratégica localização norte-litorânea, localizou, em seu território a Área de Proteção Ambiental da Barra do Mamanguape, com 22.564 hectares de matas, mangues, rios e restingas. Foi criada no governo do presidente Itamar Franco, em 10 de setembro de 1993, abrangendo os estuários dos rios Mamanguape e Miriri. Seu objetivo é conscientizar a comunidade que nela habita - índios e outras etnias -sobre a importância de se preservar os manguezais, além de outros equipamentos naturais que integram o valioso ecossistema do Litoral Norte. Cerca de 75% de toda a área municipal de Rio Tinto é protegido por reservas florestais.
A fim de preservar relíquias da biodiversidade litorânea, o Governo Federal mantém há anos, em Rio Tinto, a Reserva Biológica das Guaribas, destinada à proteger amostras representativas do ecossistema da Mata Atlântica do Nordeste e conciliar sua utilização para fins de educação e pesquisa científica. Um documentário do Radam, levantado em 1981, registra duas formações florestais distintas nas Guaribas: a Savana arbórea berta, caracterizada por um tapete gramíneo-lenhoso, entremeado de árvores raquíticas ou degradas pelo fogo, e a Floresta estacional semidecidual de terras baixas, formada por uma cobertura arbórea de 25m de altura, onde ainda existem o pau-brasil, o pau-ferro e a sucupira.


Hilton Gouvêa
texto Marcos Russo fotos

2 comentários:

  1. Bom dia! Nossa! Não li todo o post, mas vou lê -lo tão logo minha tia acordar, ela ficará extasiada, pois conta com detalhes, sobre Rio Tinto, fabrica de tecidos, bailes, amigos... Essa exposição ainda continua? Poderia ter em vídeo ou postagem aqui mesmo. A cada vez que pesquiso sobre o que ela fala ou pede, me surpreendo cada vez mais e olho para ela e penso: Lourdinha fica pensativa vez em quando, eu imagino que ela esteja viajando em seu passado que com 85 anos continua presente, vc se surpreende! Beijos e obrigada

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  2. o frederico teve uma filha fora do casamento minha avo ja falecida ela teve oito filhos ela sempre falou desce pai que teve uma relacao com sua mae que era uma de sua fucionaria temos fotos de minha avo que parece muito com o tio ela nunca o conheceu mais sabia quem era o pai essa estoria e verdadeira temoos como prova com dna dos filhos vivo

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