O geógrafo Cássio Ferreira Marques, 24 anos, após rebuscar papéis antigos e pesquisar em livros de diversos autores, chegou a conclusão de que as origens de Vila Regina, um bairro de Rio Tinto, município situado a 54 Km da Capital, tem outra história para contar, além da que, hoje, oficialmente, consta nos livros. "Temos fatos e boatos que se misturam ao longo dos tempos e é isto que precisamos esclarecer para a geração da era da informática", sustenta Marques, que ora trabalha na composição de um livro, onde pretende colocar essas observações.
Marques, que possui uma pequena Lan House em Vila Regina, diz que ali, no antigo aldeamento de caboclos da Aldeia Preguiça, foi que se originou o município de Rio Tinto, num episódio conhecido como "noite da palha queimada". Naquela época, o aldeamento começava na região da Gameleira, que se situava nas imediações da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, domínios da atual Vila Regina, ex-Vila de Monte-Mor. O geógrafo admite que nesta área histórica do Litoral Norte, a história começou com um ato de violência.
No Aldeamento da Vila Preguiça mandava o cacique Valdemar Paulo Ribeiro que, certa tarde, foi visitado por emissários dos Lundgreen a família sueca que acabava de adquirir as terras que hoje formam Rio Tinto. Polido, mas muito firme nos propósitos que queria alcançar, o pessoal dos Lundgreen propôs derrubar as choças de palha dos caboclos e substituí-las por casas de alvenaria. O cacique Valdemar não consentiu. Três dias depois, mãos misteriosas incendiaram os casebres. Aterrorizados, os caboclos se mudaram.
Cássio entende este episódio como uma tentativa de descaracterizar a presença dos caboclos potiguaras nesta área, já que era intenção da Companhia de Tecidos Rio Tinto transformar todo o aldeamento e adjacências em vilas operárias, como realmente aconteceu. A "noite da palha queimada" teve como testemunha única e muda a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, uma construção imposta por missionários, hoje transformada no cartão postal de Vila Regina. Esta igreja, tem sua existência, segundo Marques, calcada em duas lendas.
Uma é a lenda das Três Marias, cujo teor se perde nos tempos. A outra é a povoação de Monte-Mor, que possui documentos comprovando que essas eram terras indígenas desde tempos imemoriais, surgindo, a primeira prova escrita desta afirmação em 1603, quando houve a primeira tentativa do conquistador de adulterar a cultura dos nativos. O cacique Vado, que presenciou a fundação de Rio Tinto como parque fabril, espantado, indagava como um grupo empresarial novo, surgido na área entre os anos de 1920 e 1930, era proprietário de tantas terras, inclusive a dos potiguaras.
Numa conversa com um dos gerentes dos Lundgreen, Vado perguntou se todo o aldeamento de Monte-Mor ou Gameleira havia desaparecido. O homem, com um riso franco e muita sabedoria, respondeu: "Não: apenas foi modificado". Em seguida, exigiu dos índios da região documentos de posse da terra em que viviam. Vado teria respondido que a história era testemunha de que tudo aquilo pertencia a seu povo, há várias gerações.
Esta parte da ocorrência que originou Vila Regina, é, de acordo com Marques, a real história do lugar. Agora, ele cita as lendas e enganos que afirma existir sobre o que contam do local. O palacete dos Lundgreen, ainda existente em Vila Regina, não foi construído para hospedar Hitler. Nem acolhia ninhos de metralhadoras anti-aéreas. O casarão seria residência de campo de Frederico Lundgreen, fundador do império industrial que chegou a empregar seis mil operários, entre as décadas de 1940 e 1950, importando, da Alemanha, uma casta de tecelãos especializados em tecidos de algodão e linho.Elizabeth, uma irmã de Frederico, ainda residiu no casarão, que acabou saqueado por uma multidão enfurecida, em 1945.
Vila Regina, situada a uma distância de dois quilômetros de Rio Tinto, também guarda equívocos que merecem ser esclarecidos. Nesta Vila e na sede do município notam-se a predominância do estilo inglês das construções de Manchester, que Marques acredita ter sido copiado por operários alemães. Outra: Vila Regina foi a segunda Vila Operária criada na Paraíba e não a primeira, como se apregoa até hoje.
Os Lundgreen austríacos e seus operários alemães trouxeram para Rio Tinto e Vila Regina um estilo de vida que se chocava com o dos caboclos encontrados na região. O jogo de tênis e as reuniões semanais no Tênis Clube, eventos privativos de uma casta de operários estrangeiros, eram vistos como coisas discriminatórias pelos habitantes de Vila Regina e Rio Tinto.
Nos dias atuais, Marques diz que em Vila Regina existe uma comunidade de remanescentes potiguaras que luta pelo reconhecimento oficial da Funai e do governo federal. Entre as reivindicações destacam-se o reconhecimento das terras indígenas e da própria identidade dos remanescentes. Este litígio se estende desde 1981, quando o cacique Vicentinho e outros líderes da Aldeia de Jaraguá iniciaram o movimento, levando suas queixas diretamente a Brasília.
No livro de Marques ele destaca as belezas naturais e históricas de Vila Regina, como a Camboa, o Buraco do Padre e a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, além do ainda intocado resquício de Mata Atlântica que atravessa o distrito. A bica, uma fonte natural que ocorre dentro da mata, já se tornou atração turística há muitos anos. A lenda do Buraco do Padre, também é interessante. Os habitantes de Vila Regina e os remanescentes Potiguaras acreditam que uma grande serpente se abriga nesta gruta. Dizem que, à noite, ela sai do abrigo para procurar vítimas. Isto ocorre nas fases da lua cheia.
Cássio vai constar essas e outras anotações no livro Lendas e Mitologia do Povo Potiguara, que mostrará, ao público interessado, 25 lendas e histórias dessa nação primitiva, que teria chegado à costa da Paraíba por volta do ano de 1425. Os carmelitas chegaram na região de Vila Regina no início do Século XVII. Vieram com o propósito de catequizar a população indígena da região.
Palacete - Mais precisamente na Vila Regina, ainda hoje está de pé o Castelo, residência construída para hospedar o Coronel Frederico Lundgren na suas visitas a Rio Tinto. No entanto, o que se dizia na cidade, na época da segunda guerra, era que aquele se destinava a hospedar Hitler quando este viesse ao Brasil como vitorioso da guerra. Assim é que, após o término da guerra, a população de Rio Tinto, insuflada por discursos inflamados de nacionalistas, se voltou contra os alemães que residiam na cidade, funcionários da Companhia de Tecidos Rio Tinto. Além de invadir alguns chalés no centro da cidade, a massa enfurecida escalou muros do Castelo e destruiu internamente quase tudo. Os invasores só não levaram o que não conseguiram.
Fonte: A União (Hilton Gouvêa) - Rio Tinto - Recanto e Encanto Paraibano
29.09.2007
só uma correção: os Lundgrens eram suecos e não austríacos. :)
ResponderExcluirlegal muito legal, sou rio tintense e mal sabia dessa história, fico muito feliz em saber que minha cidade e barriu tem uma história tão rica como esta...
ResponderExcluirNASCI AI NA VILA JARAGUA.E NAO CONHECIA A HISTORIA. PARABENS A VCS POR TRAZER A TONA ESSA HISTORIA TAO RICA EM DETALHES FOI AI QUE EU VIVI MINHA INFANCIA.POIS SOU DO TEMPO DAS LOCOMOTIVAS QUE BUSCAVA LENHA PARA AS CALDEIRAS DA FABRICA.
Excluireu moro na villa mais n conhecia a historia toda
ResponderExcluirPor favor, qual seria a data de construção do palacete? EEntre 1917 e 1924, data da construção da fábrica ou teria sido construido posteriormente? Estou fazendo uma pesquisa sobre a relação do poeta José Camelo de Melo Rezende, autor do Romance do pavão misterioso e esse detalhe é impostante para a minha escrita.
ResponderExcluirEm minha pesquisa já li dezenas de textos (livos, teses, dissertações e artigos acerca dos Lundgrens. Em todos consta que Elizabeth era mãe de Frederico, Arthur, Herman L. Junior, Anita e Ana. Segundo esses textos, Elizabeth era Holandesa e casada com Herman Theodor Lundgren e não filha deste. Portanto Frederico e Arthur tiveram duas irmã, que foram Anita e Ana, uma dela morrendo ainda moça.
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