sexta-feira, 19 de março de 2010

FOI UMA PAIXÃO MAL RESOLVIDA QUE DEU ORIGEM AO GRUPO LUNDGREN NO BRASIL

Raul de Góes, ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro, era um escritor de texto maravilhoso e uma espécie de “diplomata” do Grupo Lundgren na antiga capital do país. É por isso, inclusive, que dizem ter sido os Lundgren que sempre ajudou nas suas campanhas políticas. Nada contra. Se era talentoso, o que merecia era receber apoios mesmo.


Raul deve ter escrito vários livros, mas confesso que só conheci um, “Um Sueco Emigra para o Nordeste”, no qual dedica um capítulo a coisas de Rio Tinto. Acho que somente uma pessoa tem esse livro em nossa cidade. Não digo o nome dessa pessoa porque os curiosos podem correr pra casa dela e ela reclamar comigo já que, temendo perder o único exemplar, não gosta nem de falar em emprestar.


Pois bem: Mas eu já tive a sorte de ler o livro. Muito bem escrito, gostoso de se ler e, claro, com muitas coisas interessantes. Ocorre que, nunca acreditei na história que Raul conta sobre como os Lundgren acabaram desembarcando e passando a morar no Brasil, mais precisamente no Nordeste.


É assim: Raul contou no seu livro que Herman Lundgren, pai do fundador de Rio Tinto, Frederico Lundgren (sim, aquele mesmo da estátua da frente da igreja da Praça João Pessoa) era um adolescente de 17 anos como outro qualquer em Estocolmo (capital da Suécia), mas eis que um dia começou a namorar com uma moça de uma família de nível econômico mais elevado e, sem querer, acabou provocando uma baita confusão.


É que a família da moça não gostava nem de ouvir falar no Herman. Herman, como sabemos, era filho de um homem de classe média baixa que trabalhava com couros e, como acontece até hoje em todo lugar, famílias abastardas, não curtem muito esse negócio de casar filha com rapaz pobre.


Os relatos baseados na realidade e as fábulas estão cheios de casos desse tipo, muito deles terminando em sumiços que a família rica acaba dando na moça, em casos de brigas e de mortes e até em suicídios.


Mas voltando ao caso específico, o fato é que Herman se apaixonou pela menina, ela também, de certa forma, por ele, e a relação familiar estremeceu ao ponto de, numa determinada noite, numa festa, Herman ser convidado a ser expulso do ambiente, situação que teria enfrentado de forma sofrida e melancólica.


Sofrida e melancólica porque, segundo Raul de Góes, desse lugar ele saiu sofrendo, chorando e, no caso, caminhando a esmo pelas ruas de Estocolmo. E já que estava assim, não queria ir pra casa, não sabia para onde ir e nem muito menos onde parar. Num determinado momento, percebeu que estava passando na frente do porto da cidade, desviou e, sem ser percebido pela tripulação, entrou num navio que estava sendo carregado para viajar. Tomou o rumo do porão do navio e lá ficou.


Até aí tudo bem. Sozinho ali, ele apenas chorava e lamentava a brusca separação da amada. Ocorre que, sem se aperceber e ainda sem ser percebido, no começo da manhã, o navio ganhou os mares e, além da amada, Herman começava também a se separar da Suécia.


Era o ano de 1855 e dois dias depois, impulsionado pela própria necessidade de comer e de beber água, Herman começou a se movimentar no porão e aí foi percebido por alguns tripulantes. É levado para o comandante, fala de sua sede e de sua fome e, compadecido, o comandante ordena os primeiros socorros. Herman é alimentado e volta ao comandante para explicar direitinho a situação.


Conta tudo, abre o jogo e, sem poder botar o navio de volta para levá-lo, o comandante decide apenas tomar os dados pessoais de Herman (endereço, nomes dos pais e tudo o mais), para, na primeira parada do navio, tentar contatos com a família do rapaz.


A primeira parada do navio era no Rio de Janeiro, com uma passagem em Salvador e um ancoramento um pouco mais prolongado no Recife. Teria sido assim que os Lundgren, segundo Raul de Góes, através de Herman, chegaram ao Brasil. Vários dias depois, o navio ancora na capital pernambucana, os contatos são feitos, e, através de funcionários da empresa do navio em Estocolmo, o pai de Herman é localizado e informado da situação.


Tudo, a partir daí, ficou mais calmo para todas as partes e, naturalmente acertado que, na volta do navio, o garoto Herman Lundgren voltaria para os braços da Suécia, mesmo que, nesse caso, não voltasse para os braços da sueca.


Mas já que Deus escreve certo por linhas tortas, o porto do Recife, como tantos outros desse país, era carente de intérpretes, e, inteligente como era, dominador de algumas línguas (na compacta Europa isso sempre foi normal) Herman acabou se tornando uma pessoa útil e, claro, até começando a ganhar algum dinheiro.


Naquela época, segunda metade dos anos 1800, as temporadas dos navios eram muito mais prolongadas do que hoje e Herman, além do trabalho de intérprete, começou a espalhar amizades pelo novo mundo – quem não gosta do Brasil (!?), e mais daquela Recife tão bem desenhada pelas mãos da natureza e do mais poeta dos arquitetos, Maurício de Nassau...!


E assim, caros leitores, quando chegou a semana do navio voltar, Herman já não tinham tanta vontade, o que obrigou novos contatos e nova peleja durante a qual o pai insistiu muito, mas terminou por concordar que o filho ficasse por mais algum tempo. Foi nesse “algum tempo” que tudo mudou.


Com as economias que ganhava como intérprete no porto, Herman foi se organizando em termos de novas investidas de trabalho e foi por isso que, ainda muito jovem, fundou uma fabriqueta de pólvora (a primeira do Brasil), empreendimento que cresceu e proporcionou a ele passar também para o ramo de confecções industrial e comercial.


Daí vieram a Fábrica de Tecidos Paulista, a Companhia de Tecidos Rio Tinto (apêndice da primeira), Lojas Paulistas, Lojas Pernanbucas, patrimônios pelas principais cidades do pais, terras em abundância pelo interior do Brasil, tudo o que, anos depois, a mídia e o povo passou a chamar de Grupo Lundgren.


Herman voltou a Suécia, mas não voltou para a sueca. Tanto é assim que casou com uma brasileira (Anna Elisabeth) e, seus filhos (Frederico e Artur, por exemplo), que muita gente pensa até que eram alemães, nasceram na rua da Aurora (Recife), numa casa que, num dia dos anos 80, na companhia do escritor João Batista Fernandes, eu mesmo fui conhecer.
  


Fonte: http://riotintopb.blogspot.com

quinta-feira, 18 de março de 2010

E Hitler passou pela Paraíba Livro Augusto Pinheiro Da equipe do DIARIO DE PERNAMBUCO




Diz uma lenda que em 1945, nos derradeiros momentos da Segunda Guerra Mundial, quando o exército alemão dava seus últimos suspiros, o líder nazista Adolf Hitler teria se refugiado em Rio Tinto, município do litoral paraibano. Até hoje visitantes que passam pela cidade perguntam pela casa onde ele teria morado.

  A partir dessa história, o jornalista e escritor Paulo Fernando Craveiro desenvolveu o enredo de seu primeiro romance, Os Olhos Azuis da Sombra (Editora Nossa Livraria, R$ 30,00), que já está à venda nas livrarias Imperatriz e Nossa Livraria, no Recife. "Fui atrás de uma mentira para compor várias mentiras", explica o autor, que teve a preocupação de fazer uma extensa pesquisa para escrever a obra.

  No romance, um técnico alemão, ironicamente chamado Adolf, é contratado pelas indústrias Lundgren para trabalhar em Rio Tinto. Ao se apresentar, deixa um funcionário apavorado com sua semelhança com Hitler. Diante dos boatos de que o Fuhrer estaria na cidade, o recém-chegado tem de se asilar no Palacete da Vila Regina, que pertence aos industriais suecos.

  "Ele acaba assumindo o papel de Hitler", conta o autor. "Inclusive trava diálogos imaginários com Klara, mãe de Hitler". Em uma dessas passagens, a mãe pergunta "E essas mortes todas?", ao que ele responde "Não foram tantas mortes assim, minha mãe, morreram apenas 55 milhões de pessoas e novas 55 milhões já estão sendo geradas nas alcovas".

  Na cidade, os habitantes - entre eles, Mouro, um dos protagonistas - tramam a morte do "líder nazista" em meio a um clima de hostilidade do Brasil em relação à Alemanha, iniciado após o torpedeamento de navios no litoral do Nordeste por submarinos germânicos em 1942. "Essa é uma lembrança muito forte da minha infância, meus pais ficaram com medo", recorda. Até hoje o nome de um dos navios, Baependi, volta sempre a sua memória.

  A pesquisa que Paulo fez incluiu visitas aos locais onde Hitler viveu e "trabalhou" na Alemanha, como casas e cervejarias de Munique, e a sede do Terceiro Reich, em Berlim. Ele chegou atéa visitar campos de concentração, como o de Buchenwald. "Fiquei impressionado com um quartinho com uma pequena janela retangular, que teria a finalidade de medir os prisioneiros, mas que era usada para matá-los com um tiro na nuca", conta.

  O jornalista já esteve 30 vezes na Alemanha, país pelo qual nutre verdadeira paixão, muito porque sua mulher tem ascendência alemã, assim como sua ex-mulher, já falecida. Ele ainda utilizou livros que não foram editados no Brasil e também visitou Rio Tinto, identificando nomes de ruas, plantas, animais, para ambientar a história.

  O livro também tem passagens eróticas, que mostram as relações entre as pessoas que chegam e as que nunca partiram e o desejo que o falso Hitler nutre pela camareira. Sobre a possível relação entre guerra e sexo, Paulo dispara: "Se há guerra, vamos fazer sexo imediatamente, antes que tudo acabe".

  Paulo, que nasceu em Monteiro (PB) e foi criado no Recife, se formou na Faculdade de Direito do Recife, fez curso de estilo literário na Faculdadede Filosofia da Universidade de Madri, estudou teoria política na George Washington University e se especializou em jornalismo na Thomson Foundation, no País de Gales. Já publicou oito livros. 



Fonte: http://www.pernambuco.com/diario/2004/04/10/viver10_0.html

A pujança dos Lundgren

Uma exposição de fotos promovida pela Casa da Cultura, órgão do Poder Municipal, procura resgatar o passado recente de Rio Tinto, no Litoral Norte, a 51 Km da Capital, falando sobre sua fundação, a pujança da fábrica de tecidos e, principalmente, enfocando a história da família Lundgren, fundadora da cidade que, nas décadas de 50 e 60 chegou a possuir o maior parque têxtil-fabril da América do Sul. A mostra iniciou em dezembro de 2007 e ainda está em evidência, revelando detalhes da vida deste município, muitas vezes ignorados até pelos historiadores.
"A exposição irá continuar por tempo indefinido, já que despertou o interesse de universitários, pesquisadores e pessoas comuns, superando a expectativa de sucesso prevista para ela", comenta o historiador Eduardo Manoel Gonçalves, 50 anos, secretário municipal do Turismo Cultura e Esporte. A Exposição exibe para um seleto público raridades curiosas, como a foto de Bety, a primeira mulher a conseguir emprego na Prefeitura local - até então um reduto só de homens - e da primeira Marinete, o ônibus coletivo que transportava passageiros entre Rio Tinto, Mamanguape e João Pessoa.
Gonçalves acrescenta que Rio Tinto, uma área que até a década de 10 era pontilhada de pântanos infectados de febres palustres, obteve um desenvolvimento meteórico graças ao empreendimento dos Lundgren, que ousaram investir num local ermo, transformando-o num pedaço de mundo conhecido. "João Frederico Lundgren foi chamado de doido, ao adquirir, por um monte de contos de réis, a fazenda improdutiva que se estendia do antigo Engenho da Preguiça até o limite com o oceano" , diz o secretário. Gonçalves reúne todos esses dados num bloco de anotações para, um dia, aplicá-los no museu que contará a história dos Lundgren nesta parte do Brasil.
Uma das raridades colocadas à vista do público visitante é a foto que mostra a destruição parcial do palacete dos Lundgren, em Vila Regina, no ano de 1945, quando fazia apenas três dias de finalização da Segunda Guerra Mundial. O palacete, que está desabitado há 63 anos, foi construído segundo o estilo arquitetônico das vilas operárias de Manchester (Inglaterra) e Berlim (Alemanha), muito em voga nos anos de 1910-1920. De acordo com esse estilo, atualmente 90% das casas de Rio Tinto ainda são conjugadas. O palacete se ligava ao porto fluvial do Jaraguá, com saída para o mar.
Uma turba enfurecida de brasileiros destruiu o casarão, em 1945, alegando que, ali, havia equipamentos de espionagens que favoreciam a incursão de nazistas pelo Litoral Nordeste do Brasil. Nada disso foi confirmado, embora três operários da fábrica de tecidos - inclusive uma mulher - tenham sido presos, na década de 40, como suspeitos de espionagem. No mesmo estilo do casarão, foi construída a matriz de Santa Rita de Cássia, em 1943 com seus bem delineados tijolos aparentes, o Tênis Club e o Cine Teatro Orion, que figurou entre os melhores cinemas do Brasil, na década de 50. No palco do Orion, exibiram-se orquestras de renome internacional. Mais: ao conquistar sua indpendência política, em 6 de dezembro de 1956, Rio Tinto já dispunha de mais de 3.600 casas e de um parque fabril que empregava diretamente 8 mil pessoas, operando em toda a sua plenitude.
"Rio Tinto sempre foi uma cidade acostumada a fornecer o melhor para seus habitantes. Por causa disso é que temos muitas coisas boas por aqui, seja do ponto de vista histórico, industrial ou arquitetônico", compara Gonçalves. Na longínqua década de 40, o palacete surgiu dentro de Vila Regina, o maior reduto operário da fábrica de tecidos Rio Tinto, com uma visão de assombrar: possuía banheiros dentro de casa e dos próprios quartos. Copiando o estilo das maiores charnecas européias, João Frederico Lundgren cuidou de plantar diversas árvores frutíferas no terreno em volta, que tinha uma área de seis hectares.
O marechal Eurico Gaspar Dutra, então presidente do Brasil, ao visitar Rio Tinto em 1951, ficou tão impressionado com a potência do parque fabril dos Lundgren, que encomendou o fardamento do Exército, Marinha e Aeronáutica à Fábrica de Tecidos Rio Tinto, na época fabricante dos melhores brins e cáquis produzidos na América do Sul. Paralelamente, o grupo Lundgren fundou duas redes de lojas, que se tornariam as maiores do mundo: no Nordeste, as Lojas Paulista e, no Sul-Sudeste, as Casas Pernambucanas, com filiais na Argentina e Uruguai.
Gonçalves lembra que possuía uma padaria em Rio Tinto, com 70 funcionários. Motivo: a panificadora fornecia pão, biscoitos e outras massas para parte do operariado da fábrica, que trabalhava em quatro turnos de seis horas. "Se a gente não tivesse muitos empregados para atender, não era possível dar conta do recado", demonstra. Gonçalves acredita que Rio Tinto viveu seu apogeu do ouro no período de 1920 a 1980. Ele diz que, em 1920, na cidade já existia o vale-alimento, a popular saroba. Quem quisesse comer no restaurante da empresa, pagava um tostão (cerca de 10 centavos a dinheiro de hoje) e comia o que aguentasse.
Ao estilo da Europa, a administração da fábrica construiu áreas de lazer para todas as categorias de operários: o staf da fábrica e empresários destacados da cidade freqüentavam o Tênis Clube, semelhante ao de Paulista (PE), onde o grupo Lundgren tinha outra fábrica de tecidos e concentrava a sede de seu império industrial e comercial. O Tênis Clube tinha freqüentadores pebolistas, mas a nata de operários especializados, brasileiros, suecos e alemães, preferia o tênis, ainda hoje um esporte pouco divulgado por essas bandas.
O América Futebol Clube e o Flamengo Esporte Clube pertenciam às categorias menores de operários e só praticavam o futebol. Vila Regina ganhou o Regina Esporte Clube. A Exposição de fotos fornece dicas de tudo isso e, paralelamente, comemora os 50 anos de Emancipação Política de Rio Tinto, com brilhantismo. No dia 15 deste mês, a exposição foi visitada por alunos do Curso de Design Ciências da Computação e Ecologia do Campus IV da UFPB Litoral Norte, em Rio Tinto. A Exposição, que funciona na Secretaria de Turismo, mantém, numa sala à parte, a Biblioteca José Américo de Almeida. Os universitários fizeram pesquisas bibliográficas e sobre o meio-ambiente.
Em ato simultâneo ao da exposição, os visitantes recebem um bloco de notas onde constam informações interessantes: por exemplo, o primeiro nome do mun icípio foi Riacho Vermelho, por causa do rio que corta a cidade, cujas águas são dessa cor. A fábrica de tecidos foi concluída em 1924. A principal chaminé, com 76m de altura, impressionava, pelo arrojo, os caboclos da região. Os Lundgren adquiriram dos ingleses seus equipamentos mais sofisticados de tecelagem. Getúlio Vargas, que visitou Rio Tinto em 1933, elogiou o pioneirismo dos Lumdgren , sobre uma área, na época, tão remota do País.
Rio Tinto, por causa de sua estratégica localização norte-litorânea, localizou, em seu território a Área de Proteção Ambiental da Barra do Mamanguape, com 22.564 hectares de matas, mangues, rios e restingas. Foi criada no governo do presidente Itamar Franco, em 10 de setembro de 1993, abrangendo os estuários dos rios Mamanguape e Miriri. Seu objetivo é conscientizar a comunidade que nela habita - índios e outras etnias -sobre a importância de se preservar os manguezais, além de outros equipamentos naturais que integram o valioso ecossistema do Litoral Norte. Cerca de 75% de toda a área municipal de Rio Tinto é protegido por reservas florestais.
A fim de preservar relíquias da biodiversidade litorânea, o Governo Federal mantém há anos, em Rio Tinto, a Reserva Biológica das Guaribas, destinada à proteger amostras representativas do ecossistema da Mata Atlântica do Nordeste e conciliar sua utilização para fins de educação e pesquisa científica. Um documentário do Radam, levantado em 1981, registra duas formações florestais distintas nas Guaribas: a Savana arbórea berta, caracterizada por um tapete gramíneo-lenhoso, entremeado de árvores raquíticas ou degradas pelo fogo, e a Floresta estacional semidecidual de terras baixas, formada por uma cobertura arbórea de 25m de altura, onde ainda existem o pau-brasil, o pau-ferro e a sucupira.


Hilton Gouvêa
texto Marcos Russo fotos

O outro lado da história (Vila Regina)

Palacete dos Lundgren na Vila Regina


O geógrafo Cássio Ferreira Marques, 24 anos, após rebuscar papéis antigos e pesquisar em livros de diversos autores, chegou a conclusão de que as origens de Vila Regina, um bairro de Rio Tinto, município situado a 54 Km da Capital, tem outra história para contar, além da que, hoje, oficialmente, consta nos livros. "Temos fatos e boatos que se misturam ao longo dos tempos e é isto que precisamos esclarecer para a geração da era da informática", sustenta Marques, que ora trabalha na composição de um livro, onde pretende colocar essas observações. 

Marques, que possui uma pequena Lan House em Vila Regina, diz que ali, no antigo aldeamento de caboclos da Aldeia Preguiça, foi que se originou o município de Rio Tinto, num episódio conhecido como "noite da palha queimada". Naquela época, o aldeamento começava na região da Gameleira, que se situava nas imediações da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, domínios da atual Vila Regina, ex-Vila de Monte-Mor. O geógrafo admite que nesta área histórica do Litoral Norte, a história começou com um ato de violência.

No Aldeamento da Vila Preguiça mandava o cacique Valdemar Paulo Ribeiro que, certa tarde, foi visitado por emissários dos Lundgreen a família sueca que acabava de adquirir as terras que hoje formam Rio Tinto. Polido, mas muito firme nos propósitos que queria alcançar, o pessoal dos Lundgreen propôs derrubar as choças de palha dos caboclos e substituí-las por casas de alvenaria. O cacique Valdemar não consentiu. Três dias depois, mãos misteriosas incendiaram os casebres. Aterrorizados, os caboclos se mudaram.

Cássio entende este episódio como uma tentativa de descaracterizar a presença dos caboclos potiguaras nesta área, já que era intenção da Companhia de Tecidos Rio Tinto transformar todo o aldeamento e adjacências em vilas operárias, como realmente aconteceu. A "noite da palha queimada" teve como testemunha única e muda a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, uma construção imposta por missionários, hoje transformada no cartão postal de Vila Regina. Esta igreja, tem sua existência, segundo Marques, calcada em duas lendas.

Uma é a lenda das Três Marias, cujo teor se perde nos tempos. A outra é a povoação de Monte-Mor, que possui documentos comprovando que essas eram terras indígenas desde tempos imemoriais, surgindo, a primeira prova escrita desta afirmação em 1603, quando houve a primeira tentativa do conquistador de adulterar a cultura dos nativos. O cacique Vado, que presenciou a fundação de Rio Tinto como parque fabril, espantado, indagava como um grupo empresarial novo, surgido na área entre os anos de 1920 e 1930, era proprietário de tantas terras, inclusive a dos potiguaras.

Numa conversa com um dos gerentes dos Lundgreen, Vado perguntou se todo o aldeamento de Monte-Mor ou Gameleira havia desaparecido. O homem, com um riso franco e muita sabedoria, respondeu: "Não: apenas foi modificado". Em seguida, exigiu dos índios da região documentos de posse da terra em que viviam. Vado teria respondido que a história era testemunha de que tudo aquilo pertencia a seu povo, há várias gerações.

Esta parte da ocorrência que originou Vila Regina, é, de acordo com Marques, a real história do lugar. Agora, ele cita as lendas e enganos que afirma existir sobre o que contam do local. O palacete dos Lundgreen, ainda existente em Vila Regina, não foi construído para hospedar Hitler. Nem acolhia ninhos de metralhadoras anti-aéreas. O casarão seria residência de campo de Frederico Lundgreen, fundador do império industrial que chegou a empregar seis mil operários, entre as décadas de 1940 e 1950, importando, da Alemanha, uma casta de tecelãos especializados em tecidos de algodão e linho.Elizabeth, uma irmã de Frederico, ainda residiu no casarão, que acabou saqueado por uma multidão enfurecida, em 1945.

Vila Regina, situada a uma distância de dois quilômetros de Rio Tinto, também guarda equívocos que merecem ser esclarecidos. Nesta Vila e na sede do município notam-se a predominância do estilo inglês das construções de Manchester, que Marques acredita ter sido copiado por operários alemães. Outra: Vila Regina foi a segunda Vila Operária criada na Paraíba e não a primeira, como se apregoa até hoje.

Os Lundgreen austríacos e seus operários alemães trouxeram para Rio Tinto e Vila Regina um estilo de vida que se chocava com o dos caboclos encontrados na região. O jogo de tênis e as reuniões semanais no Tênis Clube, eventos privativos de uma casta de operários estrangeiros, eram vistos como coisas discriminatórias pelos habitantes de Vila Regina e Rio Tinto.

Nos dias atuais, Marques diz que em Vila Regina existe uma comunidade de remanescentes potiguaras que luta pelo reconhecimento oficial da Funai e do governo federal. Entre as reivindicações destacam-se o reconhecimento das terras indígenas e da própria identidade dos remanescentes. Este litígio se estende desde 1981, quando o cacique Vicentinho e outros líderes da Aldeia de Jaraguá iniciaram o movimento, levando suas queixas diretamente a Brasília.

No livro de Marques ele destaca as belezas naturais e históricas de Vila Regina, como a Camboa, o Buraco do Padre e a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, além do ainda intocado resquício de Mata Atlântica que atravessa o distrito. A bica, uma fonte natural que ocorre dentro da mata, já se tornou atração turística há muitos anos. A lenda do Buraco do Padre, também é interessante. Os habitantes de Vila Regina e os remanescentes Potiguaras acreditam que uma grande serpente se abriga nesta gruta. Dizem que, à noite, ela sai do abrigo para procurar vítimas. Isto ocorre nas fases da lua cheia.

Cássio vai constar essas e outras anotações no livro Lendas e Mitologia do Povo Potiguara, que mostrará, ao público interessado, 25 lendas e histórias dessa nação primitiva, que teria chegado à costa da Paraíba por volta do ano de 1425. Os carmelitas chegaram na região de Vila Regina no início do Século XVII. Vieram com o propósito de catequizar a população indígena da região.
Palacete - Mais precisamente na Vila Regina, ainda hoje está de pé o Castelo, residência construída para hospedar o Coronel Frederico Lundgren na suas visitas a Rio Tinto. No entanto, o que se dizia na cidade, na época da segunda guerra, era que aquele se destinava a hospedar Hitler quando este viesse ao Brasil como vitorioso da guerra. Assim é que, após o término da guerra, a população de Rio Tinto, insuflada por discursos inflamados de nacionalistas, se voltou contra os alemães que residiam na cidade, funcionários da Companhia de Tecidos Rio Tinto. Além de invadir alguns chalés no centro da cidade, a massa enfurecida escalou muros do Castelo e destruiu internamente quase tudo. Os invasores só não levaram o que não conseguiram. 


Fonte: A União (Hilton Gouvêa) - Rio Tinto - Recanto e Encanto Paraibano
29.09.2007

quarta-feira, 17 de março de 2010

Merry Christmas!!!! Assim foi o natal em Rio Tinto

Fábrica de Tecidos Rio Tinto - Universidade Federal da Paraíba Campus IV Litoral Norte

Rio Tinto PB - A cidade dos Mistérios!

Ôxente Hitler: arquivos e documentos mostram que os nazistas estiveram na Paraíba

Lembranças do nazismo na Paraíba 






A águia que representou a opulência e poderio do III Reich adorna, na Paraíba, a fachada principal de um templo católico: a igreja matriz de Rio Tinto, cidade litorânea da região metropolitana de João Pessoa. O prédio foi construído por alemães a serviço da fábrica local de tecidos que, juntamente com a Companhia Paulista (esta última na área metropolitana do Recife), já deteve a condição de o maior complexo têxtil fabril da América do Sul.
Alta, imponente e de linha arquitetônica tipicamente européia, a igreja foi construída a mando de Frederico Lundgren, no início dos anos 40, época em que a pequena cidade abrigava as famílias de 80 homens contratados na Alemanha para cargos técnicos e de direção da Companhia de Tecidos Rio Tinto.
A águia situa-se no lado esquerdo da fachada frontal da igreja, à pequena altura da calçada. É formada em alto relevo por tijolos aparentes que sobressaem das paredes de todo o templo. Do lado direito, à mesma altura, está uma harpa e a inscrição F.L., de Frederico Lundgren, também homenageado com estátua de corpo inteiro em um pedestal bem próximo dali.


A presença de espiões nazistas na Paraíba foi tão corriqueira durante a Segunda Guerra Mundial, que um certo Ernest Hans ensinava às crianças de Rio Tinto (45 Km ao Norte de João Pessoa), a marchar com a cadência do passo-de-ganso do Exército Prussiano. A fim de melhor popularizar a saudação marcial ao Füher, nesta parte nordestina do Brasil, ele mandava meninos e meninas colocar a mão direita em riste, juntar os calcanhares e gritar Ôxente Hitler! Este alemão, que sumiu misteriosamente quando sentiu a polícia nos calcanhares, criou a versão paraibana da Juventude Hitlerista. E teria deixado aqui um legado tristemente célebre, se o Exército não tomasse providências, colocando sob vigilância os operários teutônicos da Fábrica de Tecidos da família Lundgreen, hoje desativada.


Tudo isto acontecia no crepúsculo da Segunda Grande Guerra. Em João Pessoa, a delegacia Especial de Segurança e Política Social da Paraíba –DESPS – destacou-se como zeloso órgão da contra-espionagem, através do investigador policial Antônio Pereira Filho que, segundo os depoimentos da época, “sabia enxergar um súdito do Eixo a milhas de distância”. Se o suspeito possuísse sotaque estrangeiro, olhos azuis ou apertados, Pereira o encarava como um espião em potencial e o conduzia para o DESPS, para as chamadas averiguações.


Entre oito suspeitos conduzidos, três se aproximaram da verdade. O primeiro foi o alemão Gunter Heinzel, 28 anos. O policial pernambucano que o deteve na tarde de 24 de novembro de 1943, pedia aos peritos do Instituto de Medicina Legal da Paraíba que o identificasse. Gunther havia chegado clandestinamente a João Pessoa, no auge da guerra. Era acusado de ser um dos emissários de Hitler. E como tal, deveria ser confinado no Mosteiro de São Bento, em João Pessoa, ou em Camaratuba, no Litoral Norte. Em síntese, o policial trazia de Recife uma mensagem de rádio decodificada, que dizia ser Gunther “um súdito do Eixo Alemanha – Itália - Japão, contra as Forças Aliadas”.


A Paraíba era considerada pelos aliados o calcanhar de Aquiles da América. Motivo: muito próxima da Costa da África, poderia sofrer uma invasão de tropas conduzidas por submarinos ou navios. Ou seria porto apropriado para desembarque de espiões em suas praias ermas. Por causa desses fatores, era grande a pressão de ingleses e americanos – estes últimos já instalados na Barreira do Inferno, em Natal -, no sentido de obrigar as autoridades a exercer severa vigilância sobre as famílias alemãs, japonesas e italianas que residiam em João Pessoa e cidades próximas.


CABEDELO, RIO TINTO, JOÃO PESSOA E PITIMBU


A população nativa de Cabedelo, Rio Tinto, João Pessoa e Pitimbu, segundo os Aliados, seriam as mais potencialmente visadas pelos inimigos. As residências locais e casas de comércio eram submetidas a ocasionais exercícios de black-out. Os militares justificavam que este seria o melhor meio de reagir a um eventual bombardeio sobre as povoações costeiras (que nunca veio). Em Rio Tinto, onde havia famílias alemãs, surgia o boato de que os nazistas teriam instalado “um ninho de metralhadoras anti-aéreas” no Palácio dos Lundgreens de Vila Regina”.

Outras falácias insistiam na existência de rádios-transmissores nas casas dos operários alemães que trabalhavam para os Lündgreen, em Rio Tinto e Pitimbu. Nesta última cidade, uma barcaça da família Lündgreen foi vistoriada por patrulhas do Exército, sob a suspeita de que conduzia armas e equipamentos alemães. Fantasia? O que deixava a população com a mosca na orelha era a simpatia aberta que os operários alemães da Fábrica de Tecidos nutriam pelos patrícios nazistas.

Numa manifestação maior de apoio ao regime Hitlerista, os pedreiros alemães desenharam uma águia e o símbolo dos continentes na cinta do meio da Igreja de Rio Tinto. Dizia-se, então, que era a águia do Terceiro Reich e o cetro dos continentes que Hitler pretendia conquistar. Outro fato que aconteceu em 1943, trouxe maior clima de suspeitas sobre a presença de espiões nazistas na Paraíba.

A polícia de João Pessoa prendeu Horst Baron Von Strick, operário de nível da Fábrica de Tecidos Rio Tinto. Rastreado desde quando apanhou o navio Itatunga no Rio de Janeiro, ele foi preso em Cabedelo, durante o desembarque. Passaram a suspeitar de Strick por causa das estranhas perguntas que ele fazia aos passageiros do navio, interessando-se em apurar o número de soldados colocados de plantão na Costa da Paraíba e qual o tipo de armamento que eles usavam. Até hoje permanece a dúvida sobre a nacionalidade de Strick: a polícia não conseguiu descobrir se ele era alemão ou lituano.

Apurou-se que Strick fazia freqüentes viagens a Europa. E que quase não conduzia bagagem. Para obter um álibi de legalidade nesta prisão, a polícia anunciava que “prendia os cidadãos alemães para protege-los contra os exaltados”. Depois da prisão de Strick, gerentes, capatazes e encarregados da indústria de tecidos de Rio Tinto foram vigiados com mais rigor.

A operária alemã Helena Glacher foi presa e fichada com o prontuário de número 1304 (por coincidência um milhar de águia, o símbolo do poderio alemão). Alegou que estava sem emprego e que aquele era o motivo de andar perambulando por cidades brasileiras. Afinal, procurava ocupação. A polícia estranhou. Não acreditou que uma simples operária pudesse dar-se ao luxo de viajar assim. Mas acabou pondo Glaucher em liberdade.

Hans Ernst, o misterioso alemão de Rio Tinto, não sentia o menor constrangimento em ensinar o passo de ganso às crianças. Também fazia abertamente a continência à Heil Hitler, quando cruzava com superiores ou conhecidos. Ameaçado de prisão e linchamento, acabou fugindo para Campina Grande. De lá, sumiu misteriosamente. Estas e outras coisas motivaram a intervenção do Exército em Rio Tinto.
Hoje Órion Show

Companhia de Tecidos Rio Tinto

A Companhia de Tecidos Rio Tinto é uma fábrica desativada cuja sede se situa na cidade de Rio Tinto, Paraíba, embora juridicamente ainda não esteja extinta em virtude dos muito imóveis que ainda detém.  Já formou, junto com a Companhia de Tecidos Paulista (esta última ainda em atividade na área metropolitana do Recife), o maior complexo têxtil da América do Sul.
Em 1907, o comerciante e industrial sueco naturalizado brasileiro Herman Theodor Lundgren (nascido em Norrköping, por volta de 1835 - Recife, 1907) comprou do fazendeiro Alberto de Albuquerque, por dois mil contos de réis, 601 quilômetros quadrados de terras cobertas de Mata Atlântica, habitadas por tribos potiguaras, onde se situa o atual município de Rio Tinto.^
Em 1918, inicia-se a implantação do projeto da companhia. Navios começam a trazer da Europa para Cabedelo as primeiras máquinas para o fabrico de tecidos. Pouco tempo depois, o rio Mamanguape ganhava um atracadouro para o desembarque de peças mecânicas de até 100 toneladas conduzidas desde o Porto de Cabedelo em barcos da própria companhia fabril. Com a implantação da companhia de tecidos e o desenvolvimento do parque fabril foram criados, quase em paralelo, os equipamentos comunitários (vilas residenciais, igreja, chalés, cinema, barracão e delegacia, ainda hoje considerados atrativos histórico-culturais da cidade). Foram então contratados na Alemanha mais de 80 especialistas do ramo fabril, a maioria engenheiros têxteis, para cargos técnicos e de direção, os quais trouxeram naturalmente consigo as respectivas famílias.

Apogeu industrial dos anos 1960

Após a morte de Herman Lundgren em 1907, a gestão dos negócios da família ficou, sucessivamente, nas mãos dos filhos, educados na Alemanha e Inglaterra. A Administração do projeto em Rio Tinto e desenvolvimento da fábrica couberam mais a Frederico Lundgren (1879-1946), que foi sucedido por Artur Lundgren, o qual elegeu-se primeiro prefeito de Rio Tinto, em 1957, logo após a emancipação de Mamanguape.
A fase áurea da Companhia de Tecidos Rio Tinto, aconteceu no início dos anos 1960, quando se verificou o apogeu das exportações para a Europa e os Estados Unidos. Nessa época, Rio Tinto tinha então uma das maiores arrecadações tributárias do interior nordestino, o que significava o pleno funcionamento de centenas de teares em 50 galpões em uma área construída de 52 mil metros quadrados. Doze caldeiras queimavam por dia 80 caminhões de lenha, gerando 15 mil empregos diretos. A fábrica foi o motivo condutor para edificação de quase tudo o que hoje está de pé na cidade, o que inclui 2.613 casas de habitação, o hospital, as praças e o armazém destinado ao suprimento das despensas de técnicos, dirigentes e operários. Com toda essa prosperidade, os trabalhadores tinham privilégios pouco comuns para o interior nordestino da época, como emprego fixo e assistência médica.
Em 1933, a fábrica recebe a visita de Getúlio Vargas e consegue um contrato para produzir fazendas de algodão mescla azul e brim branco para a Marinha de Guerra do Brasil. O prestígio do Grupo Lundgren era então imenso.

 

Rio Tinto (Paraíba)

Rio Tinto é um município brasileiro do estado da Paraíba localizado na microrregião do Litoral Norte.

O MUNICÍPIO DE RIO TINTO


Importante cidade da Paraíba, Rio Tinto possui um considerável acervo em arquitetura civil, com alguns prédios com estilos germânicos e um requisitado conjunto de aprazíveis praias, entre as quais destaca-se Praia de Campina, que compõe juntamente com Oiteiro, Barra de Miriri e Barra de Mamanguape, o maior pólo de lazer; sendo também principal área de ocorrência e reprodução de peixe-boi marinho, um zelo por um dos últimos refúgios desse animal em todo o País.


Rio Tinto era uma cidade que já nascia com a pretensão de se promover a si mesma, de se constituir na cidade completa de que explanou Aristóteles, em seu livro "Política". Para o filósofo, apenas uma cidade com todos os meios para prover a si mesma é que alcança a finalidade que se tinha proposto em sua fundação. E, tendo os Lundgren conseguido a posse daquelas terras depois de muita lassidão, Rio Tinto buscou ainda sua auto-regulamentação, pois a cidade constituiu-se um Estado dentro do Estado, a partir da concessão do governo Camilo de Holanda (1916-1920) de vinte e cinco anos de isenção do imposto estadual. A partir disso, a Companhia do Grupo Lundgren era provedora, em vez do Estado paraibano, de saúde, educação e segurança, estes últimos possuídos métodos de critérios tão subjetivo que ilustram bem onde alcançar o "Estado Lundgren" na vida de seu povo.


Em Rio Tinto, portanto, não se pode dizer que na cidade surgiu uma fábrica, mas que da fábrica nasceu à cidade. Parte do entendimento disso a busca para se entender Rio Tinto hoje, após o fechamento da fábrica que condicionou o inicio de sua própria existência. Por meio da rua principal, a entrada da cidade conhecida como rua do Patrício, e oficialmente Ten. José de França, uma rua arborizada com palmeiras imperiais que continuam sendo cartão-postal do lugar, mas não o único, chega-se aos portões da fábrica. Contornando, passa-se pela praça João Pessoa, onde se situa a imponente Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia, de tijolos vermelhos. E, no meio da praça, a estátua do coronel Frederico João Lundgren, fundador de tudo o que se encontra ao redor. Na praça João Pessoa acontece anualmente à festa de padroeira de Santa Rita de Cássia durante todo o mês de maio, com o seu ponto culminante no dia 22. Tudo ao redor da estátua de desbravador das terras rio-tintenses.


Toda cidade é única, cada uma com seus argumentos. Rio Tinto é única fenomenologicamente falando, sem necessidade de argumentos. È auto-evidente. Elementos europeus num clima tropical, como uma gôndola, a cidade perfaz sua identidade entre dois pólos. Num primeiro, sua história, grande o suficiente para estar inserida na história de seu País, quando, junto com sua fábrica-irmã de Paulista (PE), tornou-se uma potência têxtil nacional, visitada inclusive, pelo presidente Getúlio Vargas. Num segundo pólo, possui belezas naturais amparadas por projetos ambientais conhecidos internacionalmente. Ambos os pólos, o histórico e o ecológico são dimensões de uma mesma realidade: a cidade é um patrimônio, naquilo que foi feito pelo homem e naquilo no qual o homem nunca tocou. O turismo abarca um pólo e o outro. Conhecer Rio Tinto é descobrir uma cidade que possui a vocação de ser patrimônio em tudo o que a ela propuserem para ser.